05 maio 2011

Citações ao sabor da crise: Oliveira Martins - Fazendo tudo de novo

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À medida que tudo caía e o chão, nivelado pelos terramotos de seis anos, pedia a régua e o esquadro do matemático construtor, o marquês de Pombal, rico pelos quintos do Brasil, levantava a nova cidade utilitária e abstracta.

Foi em Junho de 59 que o risco de Lisboa mereceu a sua aprovação. Em breves anos se ergueu do seio das ruínas a mole das construções anónimas: as ruas em alinhamentos rectos, as praças rectangulares, as fachadas simétricas e monótonas, as arcadas clássicas suportando os muros lisos, fendidos por janelas regulares e simples, os edifícios públicos centralizados em torno do Terreiro do Paço, que sob o nome de Praça do Comércio recebia no seu centro a estátua insípida do pseudo-fundador de Salento. Não se reedificava Lisboa: erguia-se, no lugar da antiga, uma nova cidade, porque Portugal, a que o jesuitismo quebrou a tradição da sua vida histórica, veio, desde o século xvii até aos nossos dias, de revoluções em revoluções, fazendo tudo de novo (1640, 1755, 1834). Árvore sem raízes, qualquer sopro abala a construção inteira, e depois de cada terramoto, os estadistas, perante a ausência de vida colectiva, podem livremente seguir os impulsos do seu próprio pensamento. A sociedade estéril e muda, somente pede alguém que a governe e a faça feliz; recebe tudo, aclamando os audazes. A grande catástrofe do século xvi embrutecera-a; corrompera-lhe o carácter, quando a encontraram assim aflita; e na sua miséria mesquinha e torpe, conservou apenas o messianismo sebastianista como fé, esperança, e princípio de coesão espontânea.

(...)

Oliveira Martins, in "o terramoto", História de Portugal

10 comentários:

Anónimo disse...

Interessante este texto e,nalguma medida, actual.Não que o contexto de hoje seja igual ao de então.Mas no sentido de que muito há ainda que evoluir para que os portugueses participem mais consciente e decididamente na vida da sociedade em que se inserem.
JLM

Anónimo disse...

"Sem opção, ou sem saída?"
"O voto útil, desta vez, é entre duas inutilidades:uma, porque já sabemos onde nos leva e estamos fartos; a outra, porque temos todas as razões para suspeitar que nos levará para pior ainda" Miguel Sousa Tavares, in Expresso.
Eu, como português e como votante, sinto-me perdido nesta pseudo democracia!

Anónimo disse...

Hoje comecei a pensar que isto tudo é mesmo complicado.Nós simplificamos quando deitamos as culpas para uns ou outros.
A Grécia pensa já em abandonar o euro porque os políticos gregos não vêem saída dentro dele.
Não sei se os países menos desenvolvidos aguentarão a crise sem instrumentos próprios(a emissão e desvalorização da moeda,por exemplo).
Nós deitamos as culpas para todos os lados, julgando resolver assim os problemas.
Há exemplos de governos de direita e de esquerda que falharam. Será que a solução é fácil de encontrar?
Para já,há que tentar sair pelo caminho indicado pela troika.Não temos outra saída.
O próximo governo(seja ele qual for) que tente sair por aí.
A nós resta-nos acreditar na saída.JLM

Anónimo disse...

Perdidos nesta "democrácia" também eu digo...
E já agora permitam-me deixe aqui, mesmo que, eventualmente, fora de contexto, um pequeno escrito ao Senhor José Mesquita, alegre democrata local do Bloco de Esquerda, pois outra forma não tenho de lhe dizer "isto".
Há tempo escrevi uma pequena opinião sobre um ou outro meu ponto de vista da vida da nossa autarquia municipal.
Não sei qual é de facto o grau de parentesco familiar, social ou político que o Sr. Mesquita tem com o(s) visado(s), mesmo que bradamente eu o(s) tenha objetivado nesse meu mais que educado reparo...
Porém foi certo que não publicou essa opinião!
Tal não punha em causa as pessoas mas tão só comportamentos lamentáveis,retrógados e prepotentes!
Se tem dúvidas sobre o então exposto ou se não sabe, informe-se, mas não seja possuidor de lápias azul só porque algo lhe não agrada pessoalmente!
O pior é que não sei porque razão objetiva lhe não agradou, mas deixa supor, infelizmente, absoluto desconhecimento, do conhecimento que toda a gente tem da forma de trabalhar dos autarquizados chefes do Município!
Se está condoído com o seu colega que por acaso é presidente, será um problema que o Senhor Mesquita terá de resolver com sua consciência política!
Concordo que um blog seja manifestamente local onde se verte educação, mas não escondendo a VERDADE acompanhada da educação bem medida e possível perante as circunstâncias!
Pode também, não publicar este, quiçá, fraco escrito, mas enfim, sujeito-me a ficar com uma imagem de si, que francamente não queria!
Mas se tiver que ser, SEJA!
Cumprimentos.

josé alegre mesquita disse...

Comentários anónimos que versem sobre o carácter de pessoas, não serão por mim publicados .

Se pretender colocar o seu comentário, envie-o por email devidamente identificado.

Anónimo disse...

Olá bonito blogue , adorei mesmo muito, acho que poderiamos fcar blog palls :) lol!
Aparte de piadas sou o Jack, e assim como tu escrevo webpages embora o tema principal do meu space é muito diferente deste....
Eu escrevo sites de poker que falam de dinheiro gratis para jogar poker online sem teres de por o teu capital......
Apreciei imenso aquilo li aqui nesta 2a visita
Virei aqui mais vezes
Ps:tenho um portugues ruim.

Anónimo disse...

Senhor Professor, sei-o de nobre carácter moral. Por isso, não entando como deixa passar em claro os copianços da net que um anónimo faz para aí, não credibilizando muito o seu blog.

Anónimo disse...

Por meu e-mail???
Isso era o que você QUERIA!
Tenha lá pac(i)ência!

josé alegre mesquita disse...

Muito corajoso
Mesmo assim de forma anónima quer opinar sobre o carácter das pessoas, denegrindo a sua imagem, falando verdade, como diz, a sua, e ser publicado
Parafraseando o conhecido cómico: "deixa-me aplaudir!"

Anónimo disse...

Então "DEIXA-ME APLAUDIR"!...